FARRAZINE - Ben, seu traço é reconhecível por qualquer amante de quadrinhos. A intensidade e brutalidade das cenas (e isso é uma coisa boa, a propósito) é palpável. A questão é: como você veio a desenvolver esse traço? Qual sua trajetória, o processo da criação? Digo desde o dia em que você tentou desenhar pela primeira vez, como foi, que técnicas você experimentou e quais você achou melhores para os resultados desejados? Sei que é uma pergunta grande, mas espero que diga bastante sobre você, como artista.
Ben Templesmith - Tentativa e erro, na maior parte. Eu simplesmente gosto de seguir minhas influências. E prazos de entrega também influenciam o estilo, pra ser honesto. Então, é uma combinação de várias coisas. Eu sempre gostei de misturar técnicas e de ser diferente. E gosto de cores tanto quanto do desenho, então talvez isso explique um pouco (sobre o estilo que desenvolvi).
FZ - E quanto a outros artistas europeus, como Thomas Ott (desenhista de quadrinhos de horror suíço)? Poderia comentar um pouco daqueles cujo trabalho te deixou alguma impressão?
BT - Não posso dizer que tenho influências européias nesse sentido, embora Victor Ambrus, um ilustrador de livros, seja uma de minhas maiores.
FZ - Recentemente houve um tipo de “invasão”, com quadrinistas brasileiros integrando o mercado norte-americano de quadrinhos. Alguns exemplos são os gêmeos Bá e Moon, Rafael Grampá, e também artistas como Joe Bennet e outros. Eu gostaria de saber se você conhece seus trabalhos e o que você pensa deles (presumindo que você conhece).
BT - Bom, Bá e Moon e agora Grampá são estrelas super talentosas, até onde eu entendo. Choro quando vejo o trabalho deles. Queria ser tão bom. Não tenho familiaridade com o trabalho de mais ninguém especificamente do Brasil.
FZ - Falando sobre o Brasil, você já esteve aqui antes, durante a FIQ!. O que achou? O que chamou sua atenção e quando você volta, cara?
BT - Adorei. Um festival único. Um pouco europeu, outro tanto americano. Muito interessante, isso sem mencionar o país em si. Me diverti muito.
Não faço nem ideia de quando vou voltar. Provavelmente quando convidado! É um caminho longo e uma viagem enorme!
FZ - Quais seus pensamentos a respeito da adaptação de 30 Dias de Noite para a telona? Você mudaria alguma coisa?
BT - Eu achei bom. E isso teve muito a ver com os esforços do diretor, David Slade. Fora isso, eu não pensei sobre essas coisas. Eu não tenho como influenciar o processo e prefiro seguir meu caminho adiante. Não tem nada que eu pudesse fazer “de melhor”, relacionado ao filme. Tive pouco a ver com ele.
FZ – Há mais algum projeto seu sendo dirigido à telona (ou à telinha)? Fora a adaptação para seriado dos livros de 30 Dias de Noite, digo? (A propósito, isso ainda não chegou no Brasil. Vergonha, vergonha.)
BT - Há a possibilidade de algo com “Bem-vindo a Hoxford”, que creio ter uma chance… mas sei pouco mais que isso a respeito desse assunto.
FZ - Você fez algumas parcerias “explosivas” como, por exemplo, com Steve Niles e Warren Ellis. Há algum outro escritor com quem você gostaria de trabalhar?
BT - Nenhum em específico. Na realidade, eu simplesmente gosto de trabalhar com amigos ou em coisas interessantes. Fora isso, prefiro trabalhar sozinho.
FZ - A propósito… super-heróis. Agora nós entendemos em grande parte a atração do gênero: superpoderes são legais, há muito apelo visual, você pode incluir praticamente tudo nas tramas, fantasias de onipotência geralmente vendem porque são agradáveis e, francamente, quem gostaria de ler uma história sobre seu vizinho? Como resultado, temos a maior parte do mercado de quadrinhos voltado para super-heróis. Recentemente, entretanto, têm aparecido títulos e artistas (presente companhia incluída) que romperam esse paradigma de alguma maneira, apresentando histórias que enfocavam outras coisas, não apenas adultos em colantes com as cuecas por cima das calças. Temos 30 Dias de Noite, Walking Dead, Fall of Cthulhu, Unknown Soldier, Crossed, Do Androids Dream of Electric Sheep?, só pra citar os primeiros a pipocar na mente. Gostaria de saber suas ideias a respeito disso. As pessoas estão, finalmente, prontas para outros gêneros?
BT - Não. Não na América (do Norte), pelo menos. Será sempre dominada pelos super-heróis. É simplesmente o jeito que as coisas acontecem. Mas boas histórias sempre terão algum sucesso. E essas são as razões para os projetos que você citou terem alguma popularidade, penso eu.
FZ - Parece que quadrinhos e cinema estão apaixonados, nesses dias. Tem havido um número enorme de adaptações de quadrinhos para a telona. De novo, os primeiros, feitos recentemente, a pipocarem na mente como exemplos: Scott Pilgrim, O Besouro Verde, 30 Dias de Noite, Jonah Hex, sem mencionar os super-heróis Marvel e DC, como Lanterna Verde, Batman, Homem de Ferro, Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, e assim por diante... você acha que isso se deve à indústria finalmente ter desenvolvido a tecnologia necessária para tornar essas histórias em “realidade cinematográfica”, já que necessariamente teriam um monte de efeitos especiais, ou há realmente uma demanda maior por fantasia? Se houver, por quê?
BT - É em sua maior parte devido a Holywood querer fazer uns bons dólares através de propriedade intelectual firmada, já que tiveram alguns sucessos com o tema. É o jeito que as coisas são. O dinheiro dirige o mercado. Sim, filmes visualmente maravilhosos podem ser feitos hoje, mas eles custam muito… e o consenso geral é o de que muitos filmes baseados em quadrinhos podem se tornar sucesso. Vamos ver quanto tempo dura essa tendência, na verdade.
FZ - Você trabalha em casa? Qual seu ritmo? Quantas horas por dia você trabalha, normalmente, quantas páginas são feitas durante essas horas, o que exatamente você faz nelas (lápis e/ou pinturas, etc.)? O que você costuma ouvir enquanto trabalha?
BT - No momento não tenho ritmo, e estou meio que correndo atrás da máquina em tudo... acabei de mudar para uma nova cidade, então realmente preciso organizar um novo estúdio o mair rápido possível. Geralmente eu trabalho à noite, até alta madrugada. Se ouço música enquanto trabalho, são frequentemente trilhas de filmes. Pra efeitos de ambientação.
FZ - Tenho 2 desafios de “os dez melhores” pra você: Quais as dez Graphic Novels mais visualmente atraentes, e quais os dez filmes/animações também mais visualmente atraentes? Isso é para o leitor se familiarizar com seu gosto e para efeito de comparação com sua produção.
BT - Eu não consigo fazer o jogo de “os dez melhores”… mal consigo pensar em dez de qualquer coisa por esses dias. Digo mais, isso é muito subjetivo e eu iria mudar de ideia constantemente. Mas Asilo Arkham, Palestina (de Joe Sacco) e 300 estariam lá em cima na lista.
Filmes... bom, Aliens, A Coisa, talvez Dark City. Muito visuais. De estilo um tanto tradicional, vistos agora, talvez. Mas eles funcionam.
FZ - Recentemente, em um blog brasileiro (VertigemHQ) que traduz e divulga seu trabalho, Wormwood, você fez um comentário que gerou uma enorme discussão. O que eu gostaria de perguntar é: o que você pensa dos scans? Eles ajudam a divulgar o trabalho ou são prejudiciais? Nesse caso específico, seus fãs brasileiros foram capazes de conhecer um de seus trabalhos que provavelmente não seria publicado aqui em muito tempo ainda. (Uma informação: o blog publicou seu PayPal para que os fãs pudessem contribuir com o trabalho do autor de que gosta, e argumenta que o objetivo seria a divulgação, em vez de meramente roubar os trabalhos.)
BT - Ah, isso foi um tempinho atrás... você quer dizer onde as pessoas roubam/pirateiam o trabalho, essencialmente (porque é isso o que é, e eu mesmo já baixei alguns filmes!)? Bom, a respeito de meu trabalho, as pessoas que fazem isso virtualmente garantem que meu trabalho não chegará nunca ao Brasil. Se havia pouca demanda por ele antes, certamente não haverá nenhuma se esse trabalho já está todo traduzido e baixado de qualquer maneira. Sou um peixe pequeno, só faço dinheiro através das vendas de meus quadrinhos, eu não sou pago pra fazer Wormwood. Então, é um pouco triste. E nunca vi nenhuma doação por PayPal, embora tenha sido uma cortesia legal, depois que eu pedi. Não há isso de “propagar a palavra”, “divulgar o trabalho”, entretanto. Ainda é basicamente roubar um artista que não vai ver nenhum benefício por seu trabalho duro. Eu posso compreender, claro, e também sou um hipócrita até certo grau, mas é assim que vejo o assunto.
FZ - Finalmente, alguma mensagem pra seus fãs no Brasil?
BT - Bem... olá! Obrigado até por saberem quem sou! Por favor comprem meus livros, se sabem ler em Inglês, ou peçam a editoras brasileiras que os publiquem... é o melhor jeito e me permite pagar meu aluguel. O que é uma coisa ótima de se fazer de vez em quando.
Matéria publicada no Farrazine #21 que você pode baixar aqui ou ler online aqui
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