segunda-feira, 16 de maio de 2011

Contos do Farrazine

NA MADRUGADA por Cinthia Molina






Na madrugada, ao som da voz de Ella, ela chorava.
O peito subia e descia pausadamente.
Entre um soluço e outro o ar se esgueirava e invadia as narinas a fim de ressuscitar um corpo já sem vontade de nada.
Inesperadamente os olhos se abriram.
Se alguém a visse naquele momento diria que ela tinha um olhar de emboscada.
Sentou-se na cama na qual estava estendia havia horas e recuperou o fôlego como quem chega ao fim da marcha.
Retirou os cabelos da frente dos olhos, enxugou as lágrimas e se levantou.
Olhou tudo ao seu redor como quem admira uma exposição de arte.Um livro marcado na página 117, um par de sapatos velhos jogados em um canto, um álbum de fotos antigas, de seus avós.
Nem se lembrava mais desse álbum. Folheou e viu que se parecia muito com uma tia avó.Não sabia seu nome, mas de alguma forma era ela ali.
Durante todo o tempo, que parecia não passar, seu rosto permaneceu apático.
Parou diante do aparelho de som e derramou uma lágrima.
”Uma lágrima à voz de Ella”, pensou.
Desligou o som com o dedo indicador e sem olhar mais nada se retirou do quarto, fechando a porta atrás de si.
Controlou o choro que ameaçava recomeçar e antes de chegar à sala já estava firme.
Continuou o passo até a cozinha.
Bebeu um copo de água, mas se arrependeu. Ainda havia uma lata de cerveja.
Ao fim da lata, que naquele momento parecia o fim de tudo, o telefone tocou.
Levantou-se muito rápido e derrubou a lata que ainda estava em sua mão.
Atendeu ao telefone. Ficou em silêncio por 5 minutos, ouvindo, estática.
No final, suspirou e os lábios apenas sussurraram:
-Perdoo.

Texto publicado no Farrazine #20 que você ver aqui ou baixar aqui

2 comentários:

fernandes disse...

Cara, lindo conto.
Parabéns a srta. Molina.

Agora, acho... que falta dar uns "enter" aí no texto pra dar aquela suave interrompida, permitindo que o leitor imirja na beleza das palavras enquanto pula os parágrafos.
(Que acham?)

E lá na revista, acho... que as imagens de fundo no conto atrapalham, pois meio que inibi a imaginação de quem ler. Na minha opinião, seriam mais versátil, e conveniente, não tê-las.
Além do mais, acho que Dona Cinthia criou a história para ser transmitida exclusivamente em prosa.

Abraço e felicidades!

rdelton! disse...

Fala Fernandes!

Anotamos as dicas! Realmente você pegou o espírito do poema da Cinthia.

Um abraço
R

 
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